Pessoas como eu

Pessoas como eu
Não vagueiam
Na rua,
Quem vagueia
São as nossas almas
E isso que elas fazem
Quando não se sentem calmas.

Pessoas como eu
Não falam da boca
Para fora,
Mas ouvem do coração
Para dentro,
O meu está no peito
E o vosso?
Anda ao relento!

Pessoas como eu
Não deitam a toalha
Ao chão,
Porque pessoas como eu,
Vão à guerra,
Mesmo sabendo
Que quem dá
Também leva.

Pessoas como eu,
Sou apenas eu
E mais ninguém
Poderá haver alguém parecido,
Mas nunca igual,
O meu caso não é apenas
Mais um,
Este é excecional.

O relógio

O relógio marca a meia noite,
E no meu rosto
Ficou marcada uma noite
De amargura,
As lágrimas caiem
Com uma intensidade
Que perdura e dura
Até um novo dia surgir,
Eu queria parar
Com esta dor,
Mas estou à espera
De te ver partir.

Partida já estou eu
Mas preciso de saber
Que foste mesmo embora,
Só assim
Vou poder abrir a porta
E perceber
Que ainda existe
Um mundo lá fora,
No momento
Em que partires
Chegará a minha hora.

Ao contrário
Do que eu pensava
O silêncio não me isolou,
Foi só preciso
Abrir a janela
Para ver que o sol voltou,
E de nós,
Nada sobrou.
Sobrou apenas de mim
Uma réstia
De esperança
De começar
A mesma vida
Só quero que agora sem ti,
Nunca te menti
Quanto ao que sentia,
Foram tantas falhas
Que eu já nem nada via.

Chegou a hora.

Laços

Mão pequena,
Contra uma maior,
Olhos pequenos
Colados a uns
Superiores aos meus,
Um corpo pequeno
Junto a um maior,
E uma certeza,
Todos os meus desejos
Serão também teus.

Conversas que nunca
Se acabam,
Momentos que terminam
Quando a noite
Chega ao fim,
Atos que ficam
Para sempre na memória,
E um ser de luz
Junto de mim.

O acaso acontece
Quando estamos distraídos
Mas dispostos
A atrair o bem
Para junto de nós,
Agora que nos temos
Juntos ou longe sabemos
Que nunca estaremos sós.

São laços
Que se criam
Quando a vida
Sopra para longe
As pontas de outros nós
Que ficaram queimadas,
São novos laços que se criam
Quando se sabe
Que duas almas
Estão destinadas.

São laços,
Laços que não sei
Se iriam perdurar,
Mas por enquanto
Entrelaçam-se
E mostram que há muito
Por contar.

Dia da partida

Não precisei do calendário
Para saber que hoje
Era o dia da tua partida,
Olhei para o céu,
Ele chorou como se fosse
Uma despedida.

Despediu-se o céu o de ti,
Mas eu não,
Nunca gostei de despedidas,
Mas desta vez foi a tua opção
Não olhares mais
Nos meus olhos
Negros como a terra molhada,
Não me dares um último sorriso,
Não me tocares
Uma última vez,
E eu não vou reclamar,
Pois talvez
Tivesse sido este o dia escolhido
Para tudo acabar.

Tu partes indiferente
A tudo o que te disse,
Tudo o que te pedi,
Foram promessas,
Palavras falhadas,
Choros calados
Que eu nunca mereci.

Ver-te partir
Arde cá dentro
Como álcool numa ferida
Com um grau de profundidade elevado,
Mas tudo o que arde também cura,
Já que te vais embora
Leva contigo
Toda esta amargura,
E não penses sequer
Em voltar,
Não preciso de pessoas
Que dizem querer-me bem,
Mas nada o fazem
Para provar.

Adeus!

Hoje

Hoje o céu chora por ti,
Pois eu já não tenho forças
Para o continuar a fazer,
Dei o melhor de mim por ti
Mas tu nunca o conseguiste ver,
E eu acabei por não saber
O que estava a acontecer,
Serias tu mesmo cego,
Ou não querias mesmo ver
Todo o meu esforço?

O tempo hoje está nublado,
Mas a minha consciência
Está limpa,
Consigo adormecer
Bem comigo mesma,
Não fui eu que errei,
Não fui eu que falhei,
Não fui eu que fugi
Quando eu mais precisei
Mas eu sei
Que por mim
Nada mais podes fazer,
Só me resta encarar-te
Mas desta vez
Sem nada para te dizer.

Se me custa,
Custar custa,
Mas o erro nunca esteve em mim,
Sempre lutei
Por um rumo melhor,
Foste tu que escolheste assim,
Mas enfim,
É o que há,
É o que sempre irá restar,
Não tenho mais energias,
Seja para dialogar,
Justificar,
Ou interrogar-te
De todos os porquês,
Vou-me embora,
E acredita,
Agora foi de vez.

Se eu

Se eu pudesse prever
Que aquela
Seria a nossa última vez
Quero que saibas
Que não mudaria nada em mim,
Dei tudo o que tinha,
Nunca mereci este fim.

Os beijos que te dei,
Eu não mudava,
Aquele abraço
Se soubesse que era o último
Nem se quer te largava,
Mas não foi escolha minha
A tua partida,
Tu fugiste de mim
Por não ser eu a escolhida.

Ninguém podia prever,
O que iria acontecer,
Somente tu,
Tu e o teu poder
De decisão,
Quando eu mais precisei
Tu largas-te a minha mão
E eu caí desamparada ao chão,
Sem nenhum motivo
Ou explicação.

O que está feito
Não pode ser mudado,
O que virá
Poderá tomar um novo destino,
Cabe-te a ti
Quereres ser homem,
Ou continuares com atitudes
De menino.