Talvez

O mundo parece
Parado no tempo,
Saído de um daqueles filmes
Que retratam as desgraças
De antigamente,
A diferença
É que não é passado,
E estamos a sofrer agora
No presente.

Talvez fosse preciso
Este abalo,
Para que todos
Prestássemos atenção
Ao realmente essencial,
Antes quando saíamos de casa
Ninguém valorizava nada,
Tudo era normal.

Talvez a falta de liberdade
Em sair à rua
Nos faça pensar
Coisa que não era feita anteriormente,
E quando abrirmos
A porta de nossa casa
Possamos ver tudo diferente.

Talvez o que te priva agora
Te faça abraçar
Tudo mais forte depois,
Se antes só davas um beijo
Quando a tempestade passar
Vais querer dar dois.
Aproveita agora que tens tempo,
Para pensares
No que d'antes não podias pensar,
Por teres que ir fazer o almoço
Levares os miúdos á escola
Ou teres que ir trabalhar.

Agora que tens tempo,
Lembra-te em tudo
O que deixas-te por fazer,
Em tudo o que deixas-te
Por dizer,
E se não houver o amanhã,
Como é que vai ser?

Fala!
Faz!
Ama!
Mantém a esperança em pé,
Reacende a chama,
Porque talvez,
Não estejas cá para ver o amanhã,
Mas por ti,
Por mim,
Por nós,
Vamos à luta em nossas casas,
Apesar de distantes
Não estamos sós,
Vão à janela
E façam ouvir-se a vossa voz.

Saudades

Ás vezes as pessoas falam
Sem na realidade
Saberem o que estão a dizer,
Hoje, penso e falo
Nas saudades
Porque as senti
Depois de te conhecer.

Conversas sem fim,
Sorrisos pelo meio,
Olhares que brilhavam
Quando se cruzavam,
E as saudades…
As saudades vinham
Quando esses momentos
Por dias acabavam.

Quando a porta
Do carro se fechava
E eu ainda
Olhava para ti,
Através do vidro embaciado,
As saudades voltavam
Por não estares junto a mim
Mas sim do outro lado.
Saudade é o que resta
De momentos bem passados.
Longe ou perto
Ambos sabemos
Que os nossos destinos
Foram cruzados,
E eu não sei
Quanto a ti,
Mas quanto a mim
Acredito que tudo
Acontece por uma razão,
E mesmo que por enquanto
Não te possa
Levar para casa,
Levo-te no meu coração.

Saudades…
Tenho tantas!

As palavras

As palavras
Abrigam-se em mim,
Como se tivessem medo
Do mundo que há
Lá fora,
Leem-me e entendem-me
E depois para se mostrarem
Já sem medo
Saltam quando chega
A sua hora.

Não tenho migalhas
Nem elas são pombas
Para as comerem,
Mas tenho alma
Por ser poeta
E isso já lhes chega,
É o seu alimento,
Dizem gostar
De mim por ser
Do bem.
Gosto de toda a gente,
E não faço
Mal a ninguém.

O amor

O amor arde
E o que arde
Também cura,
Nem tudo são mares de rosas,
Também há amargura,
Mas no fim é a ternura
Que permanece
E logo se esquece
Ou pelo menos tenta-se
Não lembrar
Dos motivos
Que nos fizeram chorar.

O amor é um teste
Que nunca é finalizado,
É um jogo
Em que ganhas mais
Do que o que perdes
Mas raramente
Fica empatado.

São momentos de choro,
Outros de risos
Sem fim,
São campos de urtigas
E rosas,
O amor é assim.

Amas-me?

Amas-me?
Ou usas a minha alma
Para pagar
A raiva que a vida
Em tempos te deixou?
Amas-me?
Ou finges
Para tentares esconder
Uma ferida
Que nunca sarou?

Se me amas,
Porque é que me cortas
As asas
E a seguir
Fazes de conta
Que me queres
Ensinar a voar?
Se me amas
Porque é que não páras
E vês
Que não é só a mim
Que estás a magoar?

Se me amas
Porque é que me levas
Do chão ao céu
Com tanta facilidade?
Se me amas
Porque é que eu olho
Nos teus olhos
E vejo que não é verdade?

Se me amas,
Porque é que não te orgulhas
Em vez de me atirares
Ao chão?
Se me amas
E saí do teu ninho
Porque é que não vejo
Na tua cara
Um pingo de emoção?

Se me amas
Não parece,
O sentimento
Que por vezes nasce
Breve desvanece.

Até Sempre

O dia amanheceu lá fora,
Cá dentro,
Dentro dos peitos
De todos aqueles que te amam
A noite permaneceu,
Ainda ninguém caiu em si,
Ainda ninguém acredita
No que aconteceu.

A dor cola-se em nós,
Porque eras nosso
E partiste sem te puderes
Sequer despedir,
Sem te pudermos ver
Uma última vez a sorrir.

Foi-se o amigo do amigo,
O bom conselheiro,
O humilde, o senhor,
Foi-se embora o nosso companheiro,
E embora doa,
Embora revolte
E nos faça a todos
Questionar o verdadeiro
Valor da vida,
Não há resposta
Que se possa dar
Depois desta tão ingrata partida.

Pedro,
Tu que vais estar
Aí em cima
A olhar por todos
Os que sempre te quiserem
E fizeram bem,
Promete-nos que vais
Ficar em paz tu também.

A brisa do dia
Trouxe-nos a frieza
Sem ninguém esperar,
Mas hoje, quando olhar-mos
Para o céu ao anoitecer
Sabemos que já lá vais estar.

Até sempre, Pedro!

Ps:Este poema é dedicado a um amigo que infelizmente partiu para longe de nós. Até sempre, Pedro!

A verdade

A verdade?
A verdade
É que não sei
Quem te perdeu,
Mas agradeço
À vida por ser eu
A encontrar-te,
Não sei quem te magoou,
Quem te abriu
Essa ferida
Que tens no peito
Mas prometo
Que vou curar-te.

Não sei de onde vens,
Nem para onde vais,
Mas se quiseres
Podemos ir os dois,
Não sei o que queres
Ou o que pretendes
Mas isso vemos depois.

A verdade
É que estou perante
Um mistério
Que me cativa
A descobrir
O que esconde,
Não sei onde
Enterras-te a chave
Do teu coração,
Ou se anda
Por aí a monte
Sem ninguém o conseguir apanhar,
Por vezes
O medo é tanto
Que o que nos resta
É escapar,
Mas eu hei de o encontrar
E fazer-te ficar,
Dure isso o tempo
Que durar.

A verdade?
É que te quero fazer feliz!

Queres?

Queres?
Então vai, faz
Escreve, apaga, rabisca
Mas arrisca
Porque se não fores
Ninguém vai por ti,
Sei que estás confortável
Mas não,
O teu lugar não é aí…

Queres?
Então corre,
Respira, inspira,
Chora, sorri,
Mas reage!
Toma alguma atitude
Já que o teu querer
É assim tanto.
Não pares!
Parar é realmente morrer
E nunca sabemos
Quando isso irá acontecer.

Por isso vai,
Procura, acha,
Interroga-te a ti,
Aos outros,
Ao mundo!
Quanto mais agires
Mais sais aí do fundo.
Há uma vida lá fora
À espera de alguém
Com coragem
Para a enfrentar.
Tu não sabes
Se consegues
Mas há que tentar.

Queres?
Então vai!
Também há um lugar
Para ti, só não é esse
Onde estás,
Por isso é importante que vás.