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quarta-feira, 19 de maio de 2021

Silêncio

 Já não grito.

Dói-me me as cordas

De tanto gritar,

Todos olham

E ninguém quer saber,

Sou-vos indiferente 

E vocês para mim

Também iram ser.


Primeiro ouvia os pássaros,

Agora o tempo

Amarrou-lhes o bico

E já nem esses ouço piar,

Não sei se por acaso

Ou para me castigar.


O rio continua a bater nas rochas

Mas calou-se de repente,

Primeiro ouvia-se o rebentar

Das ondas na beira,

E já não se ouve nada ultimamente.


Só há silêncio,

E é tudo ou nada.

terça-feira, 18 de maio de 2021

Perdeu

Perdeu-se a noção do tempo,

Andam cabeças tontas

Para cá e para lá,

E quando páram

E olham para o relógio,

Dizem que tempo já não há.


Perdeu-se a bondade,

Hoje, é cada um por si,

E numa luta constante 

O outro não pode ter

Mais do que tu

Nem por um instante.


Perdeu-se a essência,

Agora parecemos todos iguais,

Fomos feitos por fotocópia,

E não há originais.


Perdeu-se a lucidez,

Agora andamos todos na lua,

Qualquer dia levam-nos tudo

E temos que viver na rua.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Não quero


Não quero falar...

Ainda sinto a vida

Mas como se estivesse a escapar,

Ainda cá estou

E quero continuar.


Sei que a minha morte

E a de todos é certa,

Mas sinto me cada vez mais perto,

Venha o que vier

Eu estarei pronta

E de coração aberto.


Ainda sinto o ar

Aqui, dentro dos meus pulmões,

E sei que amei como ninguém 

Mesmo não tendo dois corações.


Quando chegar o dia

Da minha partida,

Recordem-me como alguém feliz

E que fez umas coisas bonitas,

Não quero todos de negro 

Quero-vos como num casamento 

Todos catitas.


Não quero falar...

Mas ainda tenho tanto 

Para dizer 

E outro tanto para fazer...

Não chorem,

Não gritem 

Não esperneiem

No dia em que eu falecer.


Não quero falar...

Mas ainda quero viver,

Quero tanto,

Como no dia em que a Terra

Me viu nascer.


Não quero partir,

Mas está na hora.

E hoje até está bom tempo

Faz sol lá fora.


Não quero...