A carta que nunca te escrevi

Estou deitada no meu quarto
De lápis e borracha
Na mão,
E mesmo que nunca
Toques neste caderno,
Vou-te contar
O que aqui vai neste coração.

Nunca te toquei,
Não sei se as tuas mãos
Eram macias,
Ou ásperas como o arame farpado,
Não sei as tuas cores preferidas,
Não sei se preferias
Um dia de chuva
Ou um ensolarado.

Não sei se tinhas
Um sorriso branquinho
Ou um pouco amarelo,
Não sei se amavas as coisas
Pelo seu valor,
Ou só por ser belo.

Nunca te toquei,
Nunca te olhei nos olhos,
Nunca te cheguei a abraçar,
Sei que a vida é cruel
E que por quatro anos
De distância
Nunca me chegaste a beijar.

Nunca senti o teu perfume,
Nunca senti o teu toque,
Nunca senti o teu amor,
E se há algo que me sufoca,
É esta revolta,
Esta dor.

Nunca te tive,
Nunca nos tivemos
Talvez porque o mundo
Sabia que se nos tivéssemos
Não queríamos
Mais ninguém,
Mas eu nunca te conheci pessoalmente,
Só pelos relatos de alguém.

Se a vida me desse
Um desejo para todo o sempre,
Pedia que te trouxessem
De volta,
Nem que só fosse temporariamente.

Por muito que peça
Todas as noites que voltes,
Sei que não vai resultar,
O céu ganhou um novo brilho
Desde que foste
Para lá morar.

Nunca te vou ver sorrir,
Nunca te vou poder mimar,
Mas há algo que te posso pedir:
-"Avó, mesmo daí prometes
Que sempre me vais amar?"

Será que tens orgulho em mim?
Será que me vês
Nesta noite de nevoeiro?
Avó, nunca te falei nisso
Mas este amor que te tenho
É verdadeiro,
Confia!
Vou-te fazer companhia
Um dia.

Talvez o céu,
Seja o palco do nosso
Primeiro encontro,
Mas eu não me importo
Desde de que tenha
Pela primeira vez
Nos meus braços,
Cola-te a mim,
E concerta estes meus
Mil e um pedaços.

Mais uma vez

Mais uma vez encontro-me aqui,
No mesmo sítio,
No mesmo canto
Envolta de todo o meu pranto.

Longe não esqueço
Os teus abraços,
O teu carinho nos momentos
Mais certos,
Mas foste parvo comigo
E já nem escrevo poemas concretos.

Dá-me um nó na garganta
E um aperto ainda maior no peito
Que chega me até a estalar
O coração,
Pediste-me desculpa
Disseste que um dia te teria
De volta,
Mas são só palavras
Da mesma canção,
Onde sei de cor e salteado
A parte do refrão.

Olhas-me mas não me tens,
Estou cansada desta história
Onde somos os dois reféns
De uma escolha tua,
Eu contentava-me
Com o teu aconchego,
Nunca te pedi a lua,
Mas sou burra
Por estar a insistir
Em algo que nunca retornará
Até mim.
Nunca te pedi isto
Tu é que escolheste assim,
E não, não é o destino
Tu é que desde que tiraste
Os teus braços de mim perdeste
O tino,
Estás sem rumo,
Faria qualquer coisa por ti,
Mas dessa cabeça já não sai nada
Eu já só vejo fumo,
E assumo
Que talvez seja melhor partir,
Mesmo que me olhes nos olhos
Eu não te conseguirei mais sorrir
Vou fugir,
Para que termine esta história,
A hora da derrota chegou
Não há bandeira para a vitória.

Basta!

Deita

Deita essa tesoura abaixo,
Deita todos os teus males
Ao chão,
Não serás capaz
De me cortas as asas
Pois se o fizeres
Nunca terás o meu perdão.

Estou na borda do ninho,
Pronta a dar
O meu primeiro salto
Na vida com que sonhei,
Tu que estás aí
Pronta para me sabotar,
Que queres tu?
Que motivo te leva
A odiar a minha pessoa?
Não gostas de ninguém
Que voa?

Aqui estou,
Aqui permaneço
Até os ventos
Estarem a meu favor,
Mas não me atormentes,
Vá lá,
Faz-me só esse favor.

Não!

Pára!
Basta!
Fecha a boca
Se me adoras em palavras
E me feres em atos,
Não te dirijas mais
A mim,
Se continuares a falhar
Aos nossos pactos.

Não,
Não me olhes
Se só o fizeres
Para me tentares entender,
Sou muito mais complexa
Do que o que possas imaginar,
Não sou um livro
Só pela capa
O possas ler.

Não te atrevas
A tocar-me
Com as mesmas mãos
Que tocam alguém
Que tu finges amar,
Não me digas que me adoras,
Se nunca serás capaz
De o provar.

Pára!
Chega!
Não te rebaixes por alguém
Que te é indiferente,
Eu sei que o sou,
Eu li a tua mente,
E realmente só mente.