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domingo, 20 de janeiro de 2019

A história de um mendigo

Mais um dia na capital,
O sol hoje parece que nem nasceu,
Está tudo tão negro por aqui…
Nada que me surpreenda na verdade,
Até as pessoas aqui são sisudas

Com uma estranha normalidade.

O quiosque da esquina
Hoje abriu mais cedo,
Está negro o céu,
E a Dona Ana com medo
De não dar rendimento ao negócio
Lá se antecipou,
É esperta a mulher,
Às vezes ainda lá vou.

Tem pena de mim
E ás vezes dispensa-me
Dois ou três jornais,
(Os que não vende),
Como não tenho televisão
Não posso simplesmente ver as notícias
Nos canais principais.

O Zeca, o meu amigo das ruas,
Já está na praça a partilhar
O pequeno almoço
Com aquela passarada enlouquecida,
A praça aqui só para durante a noite
E é no Inverno,
Porque no Verão tem vida.

O dia já está praticamente terminado,
Hoje vou talvez dormir
Á entrada de algum prédio
Se tiver a sorte
De alguém me lá deixar ficar,
Senão vou tentar debaixo
Da ponte,
Para não me molhar.

A noite cai à medida
Que me enrosco no papelão,
Sou um mendigo
De corpo,
Mas ainda tenho alma pura,
E um valioso coração.

Cai Lisboa atrás de mim,
Cai a bênção à minha frente,
Acaba-se um dia assim
Tão, mas tão de repente.

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