
O sol hoje parece que nem nasceu,
Está tudo tão negro por aqui…
Nada que me surpreenda na verdade,
Até as pessoas aqui são sisudas
Com uma estranha normalidade.
O quiosque da esquina
Hoje abriu mais cedo,
Está negro o céu,
E a Dona Ana com medo
De não dar rendimento ao negócio
Lá se antecipou,
É esperta a mulher,
Às vezes ainda lá vou.
Tem pena de mim
E ás vezes dispensa-me
Dois ou três jornais,
(Os que não vende),
Como não tenho televisão
Não posso simplesmente ver as notícias
Nos canais principais.
O Zeca, o meu amigo das ruas,
Já está na praça a partilhar
O pequeno almoço
Com aquela passarada enlouquecida,
A praça aqui só para durante a noite
E é no Inverno,
Porque no Verão tem vida.
O dia já está praticamente terminado,
Hoje vou talvez dormir
Á entrada de algum prédio
Se tiver a sorte
De alguém me lá deixar ficar,
Senão vou tentar debaixo
Da ponte,
Para não me molhar.
A noite cai à medida
Que me enrosco no papelão,
Sou um mendigo
De corpo,
Mas ainda tenho alma pura,
E um valioso coração.
Cai Lisboa atrás de mim,
Cai a bênção à minha frente,
Acaba-se um dia assim
Tão, mas tão de repente.
Sem comentários:
Enviar um comentário